Blog do São Paulo
·18 de noviembre de 2025
A Realidade Financeira e o Legado da Sustentabilidade no São Paulo: Uma Análise da Fala de Crespo

In partnership with
Yahoo sportsBlog do São Paulo
·18 de noviembre de 2025

Siga o canal SÃO PAULO FC – NOTÍCIAS no WhatsApp: https://l1nk.dev/whatsappgrupospfc

A Realidade Financeira e o Legado da Sustentabilidade no São Paulo: Uma Análise da Fala de Crespo
Por Filipe Cunha, Finanças Tricolor
Em um desabafo lúcido e direto após o confronto de seu time contra o Flamengo, o técnico Hernán Crespo, comandante do São Paulo, resumiu em poucas palavras o principal abismo que separa o clube paulista de seus atuais rivais mais vitoriosos: o dinheiro, mas, sobretudo, o tempo dedicado à sua gestão.
Questionado sobre a dominância de Flamengo e Palmeiras no cenário nacional e continental, Crespo não hesitou em expor a fria realidade:
Está gostando deste artigo? Assine gratuitamente para receber novos posts e apoie o trabalho do Finanças Tricolor.Inscreva-se
“Eu falo sempre, com dinheiro você encurta os tempos… Há quanto tempo Palmeiras e Flamengo são competitivos? É assim. Filipe Luis sabe. Depois, só com dinheiro? Não, não quero faltar com respeito aos trabalhos de Abel e Filipe, mas são situações diferentes. Com dinheiro encurta os tempos. Ali há anos e anos de investimento. Temos de ter ideias com calma e brigar pelo o que a gente pode brigar… Hoje, Flamengo e Palmeiras estão em outra situação na América do Sul. Se você for se comparar todo dia com eles, neste momento não pode. Na história sim falamos. Mas a realidade é outra. Gente, calma, humildade, trabalhar e tentar reduzir esse gap.”
A análise do treinador argentino é um espelho da verdade nua e crua do futebol brasileiro da última década e que nós, do Finanças Tricolor, tentamos alertar há muitos anos. Flamengo e Palmeiras não se tornaram potências da noite para o dia, mas sim através de uma reestruturação financeira que já dura mais de uma década. O Flamengo iniciou seu processo rigoroso de austeridade em 2013, sob a gestão de Eduardo Bandeira de Melo, há mais de 12 anos. O Palmeiras seguiu um caminho semelhante a partir de 2014, com Paulo Nobre, focado na redução de dívidas e na organização da gestão.
O São Paulo, em contrapartida, mal começou a trilhar esse caminho, e o faz com hesitações preocupantes. Enquanto a retórica aponta para a necessidade de equilíbrio financeiro, as ações no departamento de futebol têm indicado um aumento nos gastos com o futebol e uma dificuldade crescente em cumprir o orçamento planejado, resultando em um ciclo vicioso que mina a capacidade de investimento a longo prazo.
A complexa situação do São Paulo é evidenciada pela evolução de seu endividamento líquido nos últimos anos. A análise dos dados de 2018 a 2024 mostra uma escalada alarmante no débito do clube.
Gráfico: Finanças Tricolor
Em valores corrigidos pelo IPCA no período, o endividamento líquido foi de R$ 375,3 milhões em 2018 e, desde então, foi subindo de forma quase ininterrupta, atingindo patamares recordes. Embora tenha havido um respiro em 2022 (R$ 641,4 milhões), muito pela questão da venda de Antony e Casemiro para o Manchester United, a tendência de alta se manteve nos anos seguintes, culminando no número assustador de R$ 968 milhões em 2024.
Esse endividamento crescente não apenas demonstra a ausência da “calma e humildade” sugeridas por Crespo, como também comprova que o clube está se distanciando, e não se aproximando, da sustentabilidade financeira que impulsionou Flamengo e Palmeiras. É impossível competir de igual para igual quando a maior parte do dinheiro que entra é consumida pelo serviço da dívida e por compromissos herdados.
Diante deste cenário, o presidente Julio Casares teria a oportunidade de deixar um legado que poderia transcender o imediatismo das taças. A sugestão é clara: o melhor legado que um presidente pode deixar não será um título pontual, como uma Copa do Brasil ou um Campeonato Paulista, mas sim a sustentabilidade do clube a médio e longo prazo.
A história recente já provou essa tese. Eduardo Bandeira de Melo e Paulo Nobre, ex-presidentes de Flamengo e Palmeiras, respectivamente, são lembrados até hoje como os grandes catalisadores da mudança de rumo em seus clubes. Bandeira de Melo encerrou seu mandato sem os grandes títulos que viriam depois, mas é cultuado por ter organizado a casa e fornecido a base financeira. Paulo Nobre fez o mesmo no Palmeiras. Eles não conquistaram a glória máxima, mas criaram o terreno fértil para que os títulos se tornassem uma consequência natural e sustentável.
Reforçamos que os títulos devem ser o fim de um ciclo virtuoso de boa gestão, e não o meio para atingir a sustentabilidade. Muitos dirigentes buscam uma conquista imediata na esperança de que ela “faça a roda girar”, mas a história recente prova o contrário: uma gestão responsável e organizada tem um impacto muito maior do que uma conquista pontual. O melhor exemplo disso foi 2023, ano em que o São Paulo conquistou a Copa do Brasil e o Fluminense, a Libertadores, e, no entanto, ambos os clubes registraram déficits financeiros em seus balanços.
O São Paulo precisa aceitar a sua “realidade, gente”, como disse Crespo, colocar os “pés no chão” e focar a gestão não na disputa imediata com os gigantes, mas na redução drástica de sua dívida. Somente quando o gap financeiro for reduzido, o gap esportivo deixará de ser uma realidade. Este é o desafio, e esta é a chance de Julio Casares ainda tentar gravar seu nome na história do São Paulo não apenas como o ganhador de uma Copa do Brasil, mas como o presidente da virada de chave financeira do São Paulo e que construiu a base para diversos outros títulos mais importantes e relevantes no futuro.
En vivo









































