Zerozero
·14 de octubre de 2025
Da falência à invencibilidade: Vit. Sernache não perde há mais de um ano

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·14 de octubre de 2025
O Vitória de Sernache é um clube da Beira Interior e vive um momento histórico. Regressou esta temporada ao Campeonato de Portugal, apresenta um registo 100 por cento vitorioso e é líder da Série C com 15 pontos em cinco jogos.
O emblema de Cernache do Bonjardim, no distrito de Castelo Branco, não conhece o sabor da derrota, para o campeonato, desde abril de 2024, quando perdeu frente ao União de Santarém no Campeonato de Portugal.
Depois de uma campanha perfeita no Campeonato Distrital da AF Castelo Branco com 23 vitórias e um empate, os vitorianos consumaram a subida e prosseguem inabaláveis.
Posto isto, decidimos desvendar os segredos por trás deste emblema que, ainda há breves anos, parecia ter o destino traçado nas provas nacionais.
Presidente desde julho de 2024, José Ramos alterou profundamente os destinos de um clube que havia caído do Campeonato de Portugal e atravessava uma das maiores crises financeiras e estruturais da respetiva história.
«Era um clube que estava completamente falido e, se calhar, poderia ter deixado de existir. Peguei no clube e consegui pagar todas as dívidas que tinha, tudo o que havia de assuntos de tribunal consegui resolver», recordou o dirigente.
Com a casa arrumada, o passo seguinte foi escolher o técnico certo. Ramos apostou em Natan Costa, treinador com muita experiência na região que, pela primeira vez, aceitou orientar uma equipa a competir nas provas distritais.
«Marquei reuniões com ele e, ao fim da terceira, chegámos a acordo. O projeto é ambicioso e ele aceitou. Tivemos praticamente 15 dias para formar uma equipa. Formámos bem e os resultados estão à vista... Foi ganhar, ganhar, ganhar», destacou o presidente
Uma aposta que se revelou certeira: «É um treinador que reúne mais condições para o projeto. Naquele momento, olhando para todas as opções, era um treinador que já tinha experiência no distrito de Castelo Branco. Sei que era um treinador de nível, porque contactei várias pessoas que o conheciam».
E a opção de escolher Natan Costa está a dar frutos. Os vitorianos reconquistaram o direito a competir nas divisões nacionais por pleno direito, depois de uma campanha invicta, que se tem arrastado, para agrado dos adeptos locais, na presente campanha.
Com a última derrota nas provas de regularidade cada vez mais distante - 18 meses se passaram -, o Vitória de Sernache contabiliza 29 jogos consecutivos sem saber o que é perder a pontos: números que se sumariam em 28 vitórias e um empate. A exceção aconteceu mesmo na Taça de Portugal, frente ao Portimonense.
Números impressionantes que, ainda assim, excluem os registos a contar para a Taça José Farromba, prova que este clube arrebatou pela quinta vez, no despique contra o Académico do Fundão.
«Este ano queremos uma equipa que se bata pelos primeiros lugares, uma equipa média-alta», afirmou José Ramos.
No início da temporada passada, quando chegou a Cernache do Bonjardim, o treinador Natan Costa sabia que o desafio era diferente de todos os que já tinha enfrentado.
Depois de passagens pelo Sertanense, rival histórico do Vitória de Sernache, e pelo ARC Oleiros, o técnico, de 46 anos, decidiu abraçar um desafio capaz de conciliar com a função de professor de Educação Física. No entanto, estava bem claro que a estadia nas distritais seria, de preferência, passageira.
«Nunca tinha treinado no distrital e, sinceramente, não era algo que previsse para a minha carreira. A ideia era descansar um ano, mas depois de três reuniões com o presidente senti que fosse eu a pessoa certa para encabeçar o clube. Senti também que ele tinha um projeto para o Sernache e, neste caso, senti que havia uma perspetiva de fazer crescer o clube», explicou o treinador.
O plantel começou a ser construído apenas a 15 dias do início do campeonato. Ainda assim, Natan Costa e o resto da direção conseguiram construir uma turma sólida e competitiva: «O objetivo era claro: tínhamos de subir logo na primeira época. A verdade é que fomos recrutando jogadores que estavam sem clube e aproveitámos alguns aqui da região. Montámos um grupo forte», contou em entrevista ao zerozero.
O resultado não podia ter sido melhor. A turma de Natan Costa terminou a época invicta no campeonato e garantiu o regresso ao Campeonato de Portugal. De volta aos palcos nacionais, o treinador mantém o rigor de quem quer o melhor para a equipa que treina, demonstrando, mesmo assim, um discurso bem alinhado com as dificuldades associadas ao quarto escalão.
«Não falamos muito sobre invencibilidade. Fechamos o microciclo de cada jogo, analisamos o que correu bem e mal e começamos a preparar o seguinte. O nosso foco é sempre o próximo adversário, o resto são apenas estatísticas», afirmou.
«Sabemos que vamos perder jogos. O Campeonato de Portugal tem adversários fortes e equilibrados. No dia em que perdermos a humildade, estaremos mais próximos da derrota», frisou.
Os adeptos, por sua vez, têm sido um dos grandes motores desta caminhada. «É curioso que, nos jogos fora de casa, temos menos adeptos mas ouvimos mais barulho. Às vezes vão menos, mas são mais constantes no apoio. Em casa, claro que tem havido um bom apoio e tem sido muito importantes para esta maré positiva que temos vivido», destacou o treinador.
Com um projeto consolidado, uma equipa unida e uma liderança serena, o Vitória de Sernache está preparado para continuar a escrever um novo capítulo de sucesso na própria história.
* com Francisco Matos