MundoBola Flamengo
·14 de outubro de 2025
Entrevista: finalista do Jabuti fala da sua relação com o Flamengo e influência de Jorge Luis Borges

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·14 de outubro de 2025
No dia 27 de outubro, a Câmara Brasileira do Livro, responsável pela organização do Prêmio Jabuti, divulgará os vencedores da 67ª edição da premiação. Entre os finalistas da categoria Conto, do eixo Literatura, está David Butter, com o livro "A bomba e outros contos de futebol".
A cerimônia de premiação será realizada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com acesso exclusivo para convidados, e transmitida pelo canal da CBL no YouTube. Em entrevista ao MundoBola Flamengo, o autor falou sobre sua relação com o Flamengo, os escritores que o inspiram e a relação entre literatura e futebol.
Como foi para você receber a notícia de que está entre os finalistas do Prêmio Jabuti? O que essa indicação representa para sua trajetória como escritor?
"Muito feliz. O livro é minha estreia em Ficção, e chegar nesse rol já é uma honra. Num aspecto pessoal, isso me encoraja a tocar adiante outros projetos. Escrevo por ofício há mais de duas décadas. A Ficção me dá chance de fazer algo novo a esta altura. É uma janela rara, e eu quero aproveitá-la", disse David.
Foto: Reprodução/Internet
Como é a sua relação com o Flamengo, Maracanã e torcida? De que forma seu vínculo com o Rubro-Negro influenciou sua vida pessoal e profissional?
"Sinto ser insuficiente dizer que 'sou' Flamengo, pois, sem o Flamengo, eu não estava aqui nem para começar a ser. Vou cometer a indelicadeza de citar algo que escrevi uma vez: 'meu Flamengo é bússola e lastro. Meu Flamengo me localiza – suas glórias e suas vergonhas são como linhas de meu mapa. Com o meu Flamengo, eu me encontro no tempo e no espaço.' O Maracanã é meu marco zero nesse processo, que passa muito pela relação com meu pai e meu irmão. E a torcida, na prática, é onde eu moro", declarou o escritor rubro-negro.
Foto: Adriano Fontes/Flamengo
Como surgiu a ideia e o conceito por trás do livro? Qual a mensagem que você quis transmitir ao leitor por meio da obra?
"O livro surgiu de um projeto antigo de escrever ficção sobre futebol. Foi, para mim, daqueles que a gente toca em fogo baixo, esquece e, um dia, decide tomar vergonha na cara e fazer de verdade. Os contos são independentes entre si, o que permite ao leitor entrar pela porta que quiser", afirmou o autor.
Por trás de qualquer obra, há inspirações que influenciam a vida de um escritor. Para David Butter, a paixão pelo futebol desde a infância foi determinante tanto para o desenvolvimento de sua obra quanto para a própria trajetória de vida.
"Encaixa no meu comportamento e no meu gosto como leitor e, pelo que venho percebendo, no comportamento e no gosto de alguns leitores. As mensagens em si estão dispersas pelos contos: às vezes, claras; noutras, escondidas. Se tiver de escolher uma mensagem, é a que motiva o livro: são as paixões da vida inteira que nos levam a abrir outras portas. Foi o gosto por futebol, desde moleque, que me interessou primeiro pelo que se passava em outras terras e culturas", declarou antes de completar:
"O que eu aprendi acompanhando futebol internacional pela Revista Placar e organizando campeonatos mundiais de futebol de botão - em que eu mesmo jogava - eu carreguei para a minha formação. O que parece ser apenas uma distração em que você gasta 'tempo demais' nas primeiras décadas da vida acaba sendo o que ajuda a te moldar", revelou o escritor.
Quais autores ou obras te influenciaram na sua trajetória, especialmente no livro 'A bomba e outros contos de futebol'?
"É um livro de contos. Então acabei sendo influenciado pelo que já li na forma mais curta. Os argentinos Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares, pela capacidade de fazerem caber universos em poucas páginas. Do Brasil, sem dúvida, Murilo Rubião, um assombro de escritor que deveria ser mais lido, debatido e vivido. E Machado de Assis, claro – de quem é sempre pouco dizer ser 'referência': é guia, estrela no horizonte", declarou Butter.
Como você enxerga o papel da literatura em preservar e reinterpretar o futebol brasileiro?
"O futebol congrega alguns palcos da vida brasileira. No futebol e nesses palcos, descambam nossas formas de odiar e amar, além de algumas de nossas obsessões e esperanças, além de nossas mazelas e maiores virtudes. O livro tenta transportar temas universais para o campo, arquibancada, vestiário e para as muitas telas por meio das quais vivemos o futebol", disse antes de completar:
"No fim das contas, esse livro vem um pouco de um certo senso de inferioridade da 'literatura de futebol', à qual me afilio: tentei arriscar literatura que tem futebol como pretexto e pano de fundo, mas literatura em primeiro lugar. Espero ter acertado aqui e ali", afirmou o autor.
Foto: Reprodução/Internet
David é jornalista formado pela Escola de Comunicação da UFRJ e mestre em Religião na Sociedade Contemporânea pelo King’s College, de Londres. Butter atuou na televisão e em veículos digitais como editor, produtor, comentarista e diretor em empresas como a TV Globo e Descomplica.
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