MundoBola Flamengo
·10 de outubro de 2025
Fé e superstição: a história do torcedor do Racing que vem ao Rio caminhando para Libertadores

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·10 de outubro de 2025
A Copa Libertadores movimenta corações, e se o Flamengo quiser a Glória Eterna, precisa superar um 'amuleto' do Racing. Alejo, torcedor fanático do clube argentino, está vindo ao Rio de Janeiro a pé, e de carona em carona.
O torcedor compartilhou sua história com o MundoBola Flamengo, e explicou que essa não é a primeira vez que faz isso. O Racing tem a presença do torcedor na maioria dos jogos internacionais fora de casa, e ele chega do jeito mais difícil possível.
"Não venho caminhando de Avellaneda, mas de San Martín, até o Rio de Janeiro. Caminhando e pegando carona. A ideia surgiu no ano passado, na Copa Sul-Americana. Eu fui caminhando em todos os jogos, oitavas, quartas, semi, final, Racing saiu campeão. Eu fui caminhando na Recopa, Racing saiu campeão contra o Botafogo. Fui caminhando até Fortaleza. Fui caminhando até a Colômbia, Bucaramanga, uma viagem mais longa, 7 mil km. Para Fortaleza, foram 5 mil km. Fui caminhando ao Uruguai, contra o Peñarol. Contra o Vélez, não fui caminhando, porque não tinha nem torcida visitante no jogo. Agora, por conta da superstição de que sempre que vou caminhando, Racing ganha, estou caminhando ao Rio de Janeiro", explica.
Alejo explica ter ficado conhecido entre os torcedores do Racing, que já o enxergam como um amuleto. Por isso, sempre pedem que ele vá até os jogos importantes fora da Argentina. Para retornar, ele explica conseguir até carona com uma torcida organizada.
"A torcida do Racing já me tem como um amuleto, porque sou da equipe, digamos. Ainda não sei como vou voltar. É muito provável que a torcida do Racing me leve de volta. A Guarda Imperial, muitas vezes, me leva de volta em seu ônibus. Sou amigo deles", diz.
A viagem de Alejo se iniciou há seis dias, e agora, ele está em Passso Fundo, Município no Rio Grande do Sul. O caminho ainda é árduo, como explica o torcedor.
"Estou em Passo Fundo-RS. Eu tinha o objetivo de chegar ao Rio entre 20 e 21, mas acho que vou chegar antes, entre 18 e 19", comenta.
Alejo não se intimida com os perigos que o caminho pode reservar e explica os cuidados que toma, além da força emocional que precisa ter para seguir adiante.
"Estou lidando bem com o cansaço e as dificuldades. Cada vez aprendo mais como lidar com o cansaço e como ser forte mentalmente. Sei que há dificuldades no caminho, sei que é muito perigoso e sempre tenho que estar atento por todos os lados. Trato de ver a placa do veículo que chega para me levar, para avançar os quilômetros que forem. Mando para alguém", relata.
Alejo saiu de casa com apenas 50 dólares, segundo ele. Além disso, ele promove uma rifa para ajudar nos custos.
Cada número custa cerca de R$ 8,00, e o primeiro vencedor recebe um mate personalizado. O segundo prêmio é uma garrafa térmica, e o terceiro, um presente aleatório do Brasil.
Ainda sobre as dificuldades, o racinguista explica que não tem encontrado tantos problemas na viagem em questão. No entanto, relembra que a ida a Fortaleza foi a mais difícil, e que precisou dormir embaixo de um caminhão.
"Nesta viagem, por sorte, não estou tento muitas dificuldades. A mais difícil foi para Fortaleza, que foram 5 mil km. Saiu o sorteio da Libertadores e tive que sair da minha casa no dia seguinte. Foram 15 dias seguidos, sem parar, até Fortaleza. Dormi menos de três horas ao dia e tive que dormir debaixo de um caminhão em uma rede paraguaia. Não havia hotel. Eu sofri. Confio plenamente que não vai me acontecer nada", afirma.
Isso porque há cidades em que os hotéis são escassos, minimizando as possibilidades do torcedor. Os postos de gasolina também se mostram úteis na sua missão.
"Durante as pausas, descanso em hotéis, já dormi em posto de gasolina, dormi debaixo de um caminhão, e tive todo tipo de situação. Já passei toda a noite sem dormir em nenhum lugar", relata.
Questionado se já pensou em desistir, ele conta que a ansiedade e os ataques de pânico o fizeram repensar em outras oportunidades. Mas essa é a nona vez que Alejo faz isso, e o costume está aumentando.
"Já pensei em desistir, em algum momento, mas não nesta viagem. Era muito estresse, ansiedade. Minha cabeça doía. Eu não conseguia lidar com isso, mas continuei, mesmo com ataques de pânico e ataques de ansiedade. E, felizmente, sempre consegui atingir meu objetivo", lembra.
A tarefa não é fácil, mas com mais de 52 mil seguidores no Instagram, onde publica vídeos das suas viagens, Alejo conta com uma base sólida de pessoas que o ajudam.
No caminho, ele encontra seguidores ou mesmo desconhecidos que costumam ajudá-lo a se alimentar, por exemplo. Além disso, no grupo de torcedores do Racing no Brasil, ele consegue se informar sobre o lugar que se encontra, descobrindo se existem perigos ou se trata-se de um local com mais tranquilidade.
"Muitas vezes, as pessoas me ajudam. Inclusive, muitas vezes, quando chego a lugares, me cumprimentam seguidores, me veem e me convidam para comer. Me convidam para me juntar a eles. Eu conheci muitos torcedores do Racing em todos os países aonde viajei. Racing tem uma filial no Brasil, com mais de 200 torcedores que vivem ao redor de todo o Brasil. Eles me ajudam. Estou no seu grupo de whatsapp, quanto tenho uma dúvida se um lugar é seguro ou perigoso, trato de me informar, e assim, vou avançando", explica.
Um seguidor, inclusive, conseguiu uma hospedagem em um hotel com um conhecido, para que Alejo pudesse passar a noite, conforme conta o torcedor.
Por fim, ele conta que saiu cedo de casa para garantir que terá tempo de descobrir como fará para acessar a partida, já que ele não tem ingressos.
"Saí muito cedo, mas não sabia como controlaria o tempo. Há vezes que vou caminhando e não consigo caminhar nada, não há avanço nenhum, 0km. Caminho, caminho, posto de gasolina... Mas há vezes que consigo avançar. Então saí cedo para que fosse mais fácil de chegar. Também saí muito tempo antes porque não tenho ingressos, então saí antes para chegar cedo e, se não conseguir ingressos com o Racing tentar outra maneira de conseguir ingressos ou entrar sem ingresso, conseguindo algum contato ou o que seja", conclui.
Questionado sobre como planeja fazer para entrar no Maracanã, Alejo afirma: "Não sei! Só sei que vai dar". Ele conta ainda que "sempre se consegue algo".
Na final da Copa Sul-Americana, Gustavo Costas, técnico do Racing, foi quem o ajudou. O treinador deu ingressos ao ver a história do torcedor, e ele pôde assistir à decisão contra o Cruzeiro, em campo neutro, no Paraguai.
Ele ainda conseguiu entrar em campo ao final da partida, posando para fotos com uma medalha do título e até beijando a taça.
Confira, abaixo, um resumo das viagens de Alejo, pedindo carona, para assistir aos jogos do Racing fora de casa.
O Racing eliminou o Vélez Sarsfield, e o Flamengo, eliminou o Estudiantes nas quartas de final. Agora, as equipes se enfrentam na semifinal. O jogo de ida acontece no dia 22 de outubro, no Maracanã, às 21h30 (de Brasília). A partida de volta, por sua vez, será realizada no El Cilindro de Avellaneda, no dia 29 de outubro.