Calciopédia
·26 de junho de 2023
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A década de 2010 foi de domínio da Juventus no futebol italiano e esta hegemonia foi construída com diversas duplas de ataque. Uma delas foi formada por Carlos Tévez e Fernando Llorente, que atuaram juntos entre 2013 e 2015. Embora o argentino fosse o craque da companhia, o espanhol de origem basca teve bastante importância para a conquista de dois scudetti pela Velha Senhora.
Fernando nasceu em Pamplona, Navarra, em 25 de fevereiro de 1985. Porém, por sua família ser originária da província riojana de Rincón de Soto, que faz parte dos limites históricos do País Basco, o jogador pode integrar a base do Athletic Bilbao desde jovem. Llorente fez toda a sua formação no time rojiblanco, integrando a base a partir dos 11 anos, onde dividiu alojamento com outros grandes nomes da história dos leones, como Aritz Aduriz, Andoni Iraola e Carlos Gurpegi.
Llorente estreou profissionalmente no Basconia, clube satélite do gigante basco, e fez boa figura na quarta categoria espanhola. Em seguida, dividiu o seu tempo entre o Bilbao Athletic, na terceirona, e o próprio Athletic Bilbao, em 2004-05, quando tinha 19 anos de idade e foi lançado por Ernesto Valverde – sua estreia ocorreu contra o Espanyol, em La Liga, em janeiro de 2005. Três dias depois do debute, já anotava a primeira tripletta de sua carreira, sobre o Lanzarote, em uma partida da Copa Do Rei.
O jovem centroavante de 1,95 m chamava a atenção pelas disputas físicas que empreendia com os zagueiros adversários para fazer valer a sua estatura e acionar a sua principal arma: as cabeçadas. Em suas primeiras temporadas no time do País Basco, Llorente teve dificuldades de se firmar. Não encontrou tanto espaço com os vários treinadores que passaram pelo Athletic Bilbao e chegou a ver os rojiblancos brigarem contra o rebaixamento até as últimas rodadas de La Liga.
A titularidade só veio na temporada 2007-08, com a chegada do treinador Joaquín Caparrós. Naquela campanha, Llorente foi o artilheiro do Athletic Bilbao, com 12 gols marcados em todas as competições, e chegou a anotar uma doppietta em duas partidas contra o Valencia. Em novembro de 2008, então, o jovem que havia atuado pelas seleções de base espanholas, ganhou a primeira oportunidade na equipe principal da Fúria, num amistoso contra o Chile. No entanto, havia intensa disputa na posição. A Roja, que havia acabado de vencer a Eurocopa, contava com nomes como Fernando Torres, David Villa, Sergio García, Dani Güiza e Aduriz.
Em crescente na carreira, Llorente marcou 18 gols em 43 aparições na temporada 2008-09, na qual o Athletic Bilbao foi vice da Copa do Rei, e conseguiu um lugar na convocação da Espanha para a Copa das Confederações – chegou, inclusive, a balançar as redes da África do Sul na campanha de terceiro lugar da Roja. Em seguida, Fernando anotou 23 vezes em 51 partidas e, após ser artilheiro dos bascos pelo terceiro ano consecutivo, representou a Fúria na Copa do Mundo de 2010, sagrando-se campeão mundial. Na vitoriosa trajetória, o grandalhão atuou apenas no segundo tempo do jogo contra Portugal, válido pelas oitavas de final.
Embora tenha levantado dúvidas no início de sua passagem por Turim, Llorente se tornou titular da Juve (Getty)
Llorente viveu mais dois anos fabulosos no Athletic Bilbao – nos quais, outra vez, foi o grande artilheiro rojiblanco. O gigante marcou 19 gols em 2010-11, última temporada sob o comando de Caparrós, e chegou aos 29 na seguinte, comandado pelo argentino Marcelo Bielsa. Naquela época, Fernando foi um dos goleadores de La Liga, com 17 tentos, e os bascos ainda foram vice-campeões da Copa do Rei e da Liga Europa: perderam ambas as finais por 3 a 0, para Barcelona e Atlético de Madrid, respectivamente.
Apesar de não ter um futebol adaptado ao tiki-taka praticado pela Espanha, Llorente tinha seu lugar garantido na seleção – e participou, sem sair do banco de reservas, da campanha vitoriosa na Euro 2012, concluída com uma goleada de 4 a 0 sobre a Itália, na final. Foi a última competição em que o Rei Leão representou a Fúria. Depois, só entrou em campo em amistosos.
Ao fim da campanha na Polônia e na Ucrânia, Llorente viu sua trajetória em Bilbao ter um fim melancólico. O centroavante comunicou à diretoria que não tinha intenção de renovar o seu contrato com o clube e foi relegado à condição de reserva de Aduriz. Hostilizado pela torcida e em maus lençóis com Bielsa, terminou a temporada com apenas cinco gols marcados. Porém, com uma transferência a custo zero para a Juventus garantida.
Llorente e Tévez foram os principais reforços do elenco bicampeão italiano, comandado por Antonio Conte, e chegavam a Turim para serem titulares de um setor que já contava com várias opções de alto nível, como Mirko Vucinic, Fabio Quagliarella e Sebastian Giovinco. O espanhol, porém, teve problemas de adaptação. Do banco de reservas, assistiu ao 4 a 0 da Juventus sobre a Lazio na Supercopa Italiana e, quando foi lançado ao onze inicial, colecionou atuações anônimas. Assim, o jornal Tuttosport chegou a estampar em sua capa a seguinte manchete: “È solo bello?” ou “Ele é só bonitão?”, em português.
O galã começou a sanar as dúvidas levantadas pela imprensa a partir de outubro, quando marcou o seu segundo gol pela Juventus, em derrota por 2 a 1 para o Real Madrid, pela Champions League – ele repetiria a dose no empate por 2 a 2 com os merengues, no returno da fase de grupos. Llorente também anotou no triunfo por 3 a 0 sobre o Napoli e emendou uma boa sequência, que lhe fez se firmar na equipe por volta da metade da temporada.
Em 2013-14, o galã espanhol foi vice-artilheiro da Juventus na conquista da Serie A (AFP/Getty)
Fernando teve ainda outros momentos de destaque ao longo de 2013-14, como quando anotou uma doppietta nas vitórias ante Cagliari (4 a 1) e Livorno (2 a 0) ou com o seu gol no triunfo por 2 a 0 sobre o Milan, em San Siro. Dessa forma, terminou a temporada com 18 bolas nas redes, sendo 16 na Serie A, e foi o vice-artilheiro bianconero na campanha de um scudetto histórico. Além de ter sido o 30º da Juventus, ele foi conquistado com o recorde de 102 pontos obtidos, graças a 33 vitórias e três empates.
Não obstante tenha sido vital para o título no campeonato e fosse um dos artilheiros do continente em gols de cabeça, com sete na Serie A, Llorente ficou devendo nas copas – como quase todo o elenco da Juventus. A Vecchia Signora foi eliminada pela Roma nas quartas de final da Coppa Italia e logo na fase de grupos da Champions League, sendo relegada à Liga Europa. No segundo principal torneio europeu, o espanhol passou em branco e viu a sua equipe ser derrotada pelo Benfica, nas semifinais, desperdiçando a chance de disputar a decisão em sua casa.
Na temporada seguinte, a Juventus viu Conte aceitar a proposta de dirigir a seleção italiana e Massimiliano Allegri chegar a Turim para substituí-lo. Ao mesmo tempo, o ataque foi reformulado por conta das saídas de Vucinic, Quagliarella e Pablo Daniel Osvaldo, que fora contratado por empréstimo em janeiro. Em contrapartida, a Velha Senhora ganhava o reforço de Álvaro Morata, adquirido junto ao Real Madrid por 20 milhões de euros.
Na briga pelo posto de centroavante da equipe de Allegri, o técnico optou por acontentar aos dois espanhóis: Llorente jogou mais partidas na Serie A e Morata, na Champions League. O novo contratado, porém, roubou a cena, sendo peça-chave da campanha dos italianos no mata-mata do torneio europeu – foi, inclusive, o autor do gol bianconero na derrota por 3 a 1 para o Barcelona, na final – e marcando mais vezes do que o Rei Leão na Serie A. Enquanto Álvaro anotou oito, Fernando guardou sete.
A queda de rendimento era notória: com os mesmos 45 jogos, Llorente marcara, em 2014-15, exatamente a metade dos gols de 2013-14; nove contra 18. Ainda que tenha ganhado mais uma Serie A e uma Coppa Italia, se via na lista dos dispensáveis pela diretoria, que queria potencializar o ataque e buscou, logo após o fim da temporada, as contratações de Paulo Dybala e Mario Mandzukic – ao fim da janela de transferências, Simone Zaza também aportaria em Turim.
Já na reta final da carreira, Llorente ofereceu experiência ao Napoli (Getty)
O Rei Leão até iniciou a campanha de 2015-16 pela Juventus e faturou mais uma Supercopa Italiana, além de ter atuado em jogos da Serie A – que seria conquistada pelos bianconeri posteriormente. No entanto, acabou entrando num acordo com a agremiação para rescisão contratual no fim de agosto e encerrou sua passagem pelo Piemonte com 27 gols em 92 partidas. Llorente lamentou a saída, porque se sentia bem em Turim e ganhava títulos, mas sentia a necessidade de continuar jogando e havia perdido protagonismo. Por isso, a custo zero, assinou por três anos com o Sevilla.
Quis o destino que, na Champions League, o Sevilla caísse justamente no grupo da Juventus. E que Llorente marcasse o gol da vitória que garantiu a ida dos rojiblancos, terceiros colocados na chave, a seu terreno habitual: a Liga Europa. O time de Nervión teve campanha vitoriosa na competição, que faturou pela terceira vez seguida, e ainda foi vice da Copa do Rei. Fernando, contudo, não conseguiu apresentar um desempenho convincente ao longo da temporada e, em 2016, foi vendido ao Swansea, da Premier League.
No clube galês, Fernando reencontrou os bons momentos e, com 15 gols, foi o principal nome da campanha de permanência na elite. O rendimento lhe valeu transferência para o Tottenham, onde seria reserva de Harry Kane – que acabara se se sagrar artilheiro da Premier League, com 29 tentos. Pelo time londrino, o espanhol foi novamente vice-campeão da Champions League, em 2019, e até teve importância nesta trajetória, visto que foi o herói da classificação às semifinais, ao empurrar, do jeito que deu, a bola para as redes do Manchester City no Etihad Stadium: os Spurs perderam por 4 a 3, mas haviam vencido por 1 a 0 em casa e levaram vantagem pelo gol qualificado.
Depois de duas temporadas como reserva de luxo em Londres, Llorente, já com 34 anos, topou retornar à Itália para desempenhar o mesmo papel – dessa vez, no Napoli. Adquirido a custo zero pelo time comandado por Carlo Ancelotti, o espanhol seria sombra de Arkadiusz Milik e Dries Mertens.
O início da passagem de Llorente pelo Napoli foi bastante interessante: anotou uma doppietta na vitória por 4 a 1 sobre o Lecce, no Via del Mare, e fechou a conta no triunfo por 2 a 0 sobre o Liverpool, pela fase de grupos da Champions League. Depois, em dezembro de 2019, balançou as redes numa derrota para o Bologna e a fonte secou. O centroavante não voltaria a comemorar pelos azzurri e, após a parada do esporte, devido à pandemia de covid-19, conviveu com lesões.
A Udinese foi a última equipe do grandalhão no futebol italiano (Getty)
O Napoli, que trocou Ancelotti por Gennaro Gattuso em dezembro, terminou a temporada 2019-20 com o título da Coppa Italia, após bater a Juventus nos pênaltis, e Llorente seguiu no elenco. Porém, com espaço reduzidíssimo, sequer foi inscrito na Liga Europa e só fez mais cinco partidas – incluindo a Supercopa Italiana, na qual a Velha Senhora deu o troco nos partenopei – até deixar a Campânia, em janeiro de 2021, às vésperas do fechamento da janela de inverno, rumo à Udinese. No total, o espanhol somou quatro gols em 29 aparições pelos azzurri.
No Friuli, Llorente ganhou o espaço desejado e foi titular em boa parte do restante da temporada: atuou em 14 dos 19 jogos possíveis, partindo do onze inicial em oito ocasiões. Contudo, quando o assunto foi bola na rede, serviço principal dos atacantes, contribuiu apenas uma vez, em vitória por 2 a 0 sobre o Sassuolo. A Udinese terminaria aquela Serie A apenas na 12ª colocação.
Apesar de ter assinado contrato de um ano e meio com a equipe de Údine, o gigante acertou a rescisão antes do fim da janela de transferências do verão europeu. Dessa forma, encerrava o seu percurso no futebol italiano com a contribuição para a conquista de sete taças, além de 135 partidas e 32 gols marcados.
O grandalhão ficou sem clube por alguns meses. Mas, ainda buscando uma última dança no futebol, em outubro de 2021 aceitou a proposta do Eibar e foi ajudar o time do País Basco na tentativa de retorno a La Liga. Contudo, os azulgranas foram eliminados nas semifinais dos playoffs de acesso e Fernando encerrou o seu contrato. Apenas em fevereiro de 2023, quando já beirava os 38 anos, é que foi anunciar o fim de sua carreira.
Ele não era só bonitão. Llorente pode não ter se destacado pela plasticidade em seu futebol, mas é inegável o quão eficiente era, sobretudo nas jogadas aéreas. O espanhol também não entra na lista de maiores ícones da Juventus, mas será sempre lembrado com carinho por ter contribuído para que os bianconeri construíssem a maior hegemonia da história da Serie A.
Fernando Javier Llorente Torres Nascimento: 25 de fevereiro de 1985, em Pamplona, Espanha Posição: atacante Clubes: Basconia (2003-04), Athletic Bilbao (2004-2013), Juventus (2013-15), Sevilla (2015-16), Swansea (2016-17), Tottenham (2017-19), Napoli (2019-21), Udinese (2021) e Eibar (2021-2022). Títulos: Copa do Mundo (2010), Eurocopa (2012), Supercopa Italiana (2013 e 2015), Serie A (2014, 2015 e 2016), Coppa Italia (2015 e 2020) e Liga Europa (2016) Seleção espanhola: 24 jogos e 7 gols
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