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·28 de outubro de 2022
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O gol de pênalti marcado por Bonaventure Kalou aos 41 minutos do segundo tempo não apenas selou a vitória da Costa do Martim por 3 a 2 sobre Sérvia & Montenegro na terceira rodada do Grupo C da Copa do Mundo de 2006. Minutos depois, chegava ao fim a história da seleção sérvio-montenegrina.
O Mundial disputado na Alemanha foi o único da seleção de Sérvia & Montenegro. Herdeira histórica da seleção da Iugoslávia, a equipe daria origem posteriormente a duas outras seleções – obviamente, a da Sérvia e a de Montenegro. Mas por um breve intervalo, coube a sérvios e montenegrinos, juntos, representar o futebol mais tradicional dos Balcãs em uma Copa do Mundo.
O que pouca gente se lembra, no entanto, é que Sérvia & Montenegro já nem existia como país durante a Copa de 2006. Na ocasião, as duas nações já haviam se separado, e a seleção presente em gramados alemães representava um Estado, na prática, inexistente.
Para contar essa história, voltemos ao começo da década de 1990 e ao colapso da União Soviética. Na época, a República Socialista Federativa da Iugoslávia reunia diversas nações, que buscavam maior autonomia política. Assim, vários movimentos de independência ganharam força. Em 1991, quatro destes territórios se separaram: Eslovênia, Croácia, Macedônia e Bósnia & Herzegovina.
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O que restou do bloco original virou a República Federal da Iugoslávia, que reunia basicamente os territórios de Sérvia e Iugoslávia. Mas mesmo este novo país não se viu em um cenário pacífico: a partir de 1996, a província sérvia do Kosovo tentou sua independência, mas o movimento foi reprimido com violência – a exemplo do que já acontecera no processo de independência da Bósnia & Herzegovina.
Assim, durante o fim da década de 1990, a situação era de desgaste na Iugoslávia. Enquanto os kosovares buscavam independência, os montenegrinos também questionavam o poder da capital Belgrado, na Sérvia. Slobodan Milosevic, presidente iugoslavo entre 1997 e 2000, foi preso em 2001, sendo julgado por um tribunal da ONU em Haia (Holanda) por crimes de guerra, acusações referentes aos processos de independência das ex-repúblicas iugoslavas no início da década anterior. Milosevic morreu em 11 de março de 2006.
No início do século XXI, a situação política da Iugoslávia já estava bastante comprometida. Assim, em 2003, os governos da Sérvia e de Montenegro aprovaram uma nova Constituição, que dava um novo nome ao país: Sérvia & Montenegro.
Mesmo assim, este novo país durou pouco. Em Montenegro, a crescente insatisfação levou a um plebiscito. Assim, em 21 de maio de 2006, mais de 55% da população montenegrina aprovou a independência do território. Em 3 de junho de 2006, foi declarada a independência de Montenegro.
Mas e o futebol?
Em campo, as mudanças políticas demoraram pouco para aparecer. A Iugoslávia ainda disputou as eliminatórias para a Copa de 2002, dando adeus ao ficar no terceiro lugar de seu grupo na classificação europeia – a Rússia liderou, enquanto o segundo lugar, ironicamente, ficou com a Eslovênia.
Já nas eliminatórias para a Euro de 2004, um cenário curioso: a equipe mudou de nome durante a campanha. Pelo Grupo 9, a Iugoslávia fez dois jogos, ambos em 2002, empatando fora de casa com a Itália por 1 a 1 e vencendo a Finlândia em Belgrado por 2 a 0. Veio a mudança de nome do país em 4 de fevereiro de 2003, e a seleção de Sérvia & Montenegro entrou em campo oito dias depois, empatando em casa com o Azerbaijão por 2 a 2. No fim, a equipe foi a terceira da chave e acabou fora do torneio continental.
Mas nas eliminatórias para a Copa de 2006, os sérvio-montenegrinos surpreenderam: lideraram o Grupo 7 com 22 pontos e garantiram vaga direta ao Mundial, mandando a Espanha para a repescagem e eliminando a Bósnia & Herzegovina e a Bélgica. Mateja Kezman foi o vice-artilheiro do grupo com cinco gols, um a menos que o espanhol Fernando Torres.
O sorteio colocou a seleção balcânica no forte Grupo C, ao lado de Argentina, Holanda e Costa do Marfim. A estreia estava marcada para 11 de junho, oito dias após a independência de Montenegro. Assim, quando a seleção de Sérvia & Montenegro foi a campo em Leipzig para enfrentar a Holanda, representava um país que não existia mais.
Foi a primeira das três derrotas da equipe: 1 a 0. Depois, a ex-Iugoslávia levou 6 a 0 da Argentina e 3 a 2 da Costa do Marfim. Sem surpresas, argentinos e holandeses avançaram às oitavas de final, enquanto os sérvio-montenegrinos ficaram na lanterna.
Imagem: Björn Laczay, via Creative Commons
No fim de junho, ainda durante a Copa do Mundo, aquela seleção deixou oficialmente de existir. A Associação de Futebol de Montenegro entrou com um pedido de reconhecimento junto à Uefa, estreando como seleção independente em março de 2007. A Sérvia, por sua vez, herdou o histórico da Iugoslávia junto à Fifa e à Uefa.